“A música é meu passado, meu presente e meu futuro. Se não fosse a arte, acho que eu seria…perdido”. A afirmação sincera diz muito sobre Juzé. Cantor, compositor, poeta e ator, é um Artista com A maiúsculo porque não escolheu fazer música - Foi escolhido por ela. “O palco é um lugar de libertação pra mim”, conta. Essa liberdade de se encontrar como pessoa no mundo através de sua escrita e musicalidade guia suas canções, extremamente viscerais. “Eu me jogo em tudo. Não tenho medo de viver. Falo o que estou sentindo, de maneira natural e realista”, diz.
É o que podemos ouvir no novo EP de Juzé, “Doce Confeito Mel”, lançado neste 13 de setembro com 4 músicas e vídeos gravados em João Pessoa, sua cidade natal. “É um álbum verdadeiro porque mostra muito do meu Eu artístico, minhas influências”. Referências essas que passam pela música nordestina, ibérica, africana, norte-americana e outras sonoridades de um cidadão do mundo. “É como se eu tivesse uma coluna vertebral nordestina com vários tentáculos: Mouros, ciganos, ingleses, jamaicanos, mexicanos, americanos”, brinca. As faixas estarão disponíveis nas plataformas de streaming via selo Fogo no Paiol / Nikita Music Digital e os vídeos inéditos no canal de YouTube do artista: https://www.youtube.com/@
O single “Agarrado” já começa com o violão seguro de Juzé conduzindo a melodia num trote ora suave ora acelerado, como sugere a letra “o mundo em cima de um cavalo e a gente agarrado, nós dois agarrado”. Com viradas criativas e cheias de personalidade, o artista une xote, galope e seu tema preferido: o amor. “Tem coisa melhor que andar de cavalo abraçado? A gente complica muito as relações. Viver o simples é tudo que precisamos”, pensa ele, que toca violão em todas as faixas e é acompanhado por seu bando: Jefferson Brito (Craviola de 12 cordas e produção musical), Caio Palitot (baixo) e Filipinho Soares (bateria).
Dono de uma mão direita extremamente rítmica e envolvente, Juzé consegue unir na mesma composição beleza e caos, como na reflexiva “Doce, Confeito, Mel”, um baião com um pé no Nordeste e outro nas arábias, parceria com Pedro Melo, sobre nosso lugar na terra: “Ondé que a gente tá? Ondé que já se viu? Quem é já serviu? E quem não serve mais?” diz a letra. “Eu fiz essa música com um amigo em Miami. A gente tava numa praça, um mói de gente passando, falando, uma cidade super movimentada, a vida voando… A gente começou a refletir sobre tudo isso e saiu essa letra sobre pressão, amor, beleza e paz”, lembra ele.
Já em “Será que cabe uma Canção?”, o artista cria uma introdução musical delicada para logo depois entrar rasgando com seu estilo direto. Xote, pop e reggae se encontram sob a maresia, o luar e o desabafo: “Lapada na cabeça que tu me deu / Pegou o meu juízo e me f*deu / Tô sem meu livre arbítrio / Será que tô perdido ou me encontro nesse brêu?”. O EP finaliza com a canção autobiográfica “Mêi Sargaço, Meio Mato”, um poema suave e crescente que vibra o som dos cantores sertanejos, ecoa a sonoridade de ícones como Zé Ramalho e Geraldo Azevedo e termina no forrozin gostoso de todo festejo paraibano. “A cultura nordestina está totalmente entranhada em mim. É como se fosse uma planta jibóia me enlaçando e saindo por todo meu corpo”, compara ele, que já tem essa faixa lançada numa versão de estúdio e agora a disponibiliza gravada “de uma tacada só” com seu bando.
Essa verdade e riqueza cultural que Juzé traz em seu trabalho vem abrindo sucessivas portas desde que começou a tocar profissionalmente, aos 18 anos. Considerado um dos principais herdeiros da MPB nordestina, Juzé foi eleito um dos 25 artistas mais inovadores e interessantes de 2024 na lista Future of Music da revista Rolling Stone. Seu trabalho vem ganhando admiração do público e da crítica, com composições gravadas por Elba Ramalho, Juliette e Alok e apresentações ao vivo com Alceu Valença, Cátia de França e Pedro Luís. Radicado no RJ desde 2021, Juzé ainda escreve e interpreta ao lado do amigo Lukete as esquetes da dupla Totonho e Palmito, sucesso nas novelas Mar do Sertão (2022) e Rancho Fundo (no ar) com as “Ceeenas dos próximos capítulos…” da trama.
“Eu não me via como representante da cultura nordestina, hoje entendo que o lugar que a gente está realmente é de representatividade; um lugar que em outras épocas era ocupado por outras pessoas fazendo o que a gente faz, reproduzindo a nossa cultura. Digo isso porque as pessoas falam quando nos encontram: ‘A gente se vê em vocês, o sotaque, a verdade, as gírias, as músicas, é tão bom’”, conta ele.
A curiosidade e encanto que Juzé tem pelas pessoas e pelas culturas refletem sua alma desbravadora de artista. “Esse conceito de fronteira pra mim é ultrapassado. O planeta é nosso, a gente pode transitar em qualquer lugar”, reflete. Com esse pensamento ele segue seu destino. Criando caminhos, aproveitando as oportunidades e levando suas raízes e contemporaneidade para onde a arte escolher. Sempre com “seu cheirinho de fogueira”, como bem percebeu Gilberto Gil num encontro com Juzé nessas andanças pela vida...
Por Kélita Myra
Setembro de 2024