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As ‘Meninas Malvadas’ não podem evitar de serem tão populares - principalmente agora em cartaz na capital paulista

Mais do que uma adaptação fiel, o musical em cartaz no Teatro Santander reimagina personagens icônicos com profundidade emocional, humor afiado e o frescor do teatro musical brasileiro.

Gabriela Freitas
Por: Gabriela Freitas
27/05/2025 às 16h00
As ‘Meninas Malvadas’ não podem evitar de serem tão populares - principalmente agora em cartaz na capital paulista
Foto: abroadwayeaqui

Eu estava obcecada, passava 80% do tempo exaltando Meninas Malvadas e, nos outros 20%, eu torcia para que alguém falasse delas, só para poder falar mais um pouco. E olha, agora tenho um bom motivo: o musical Meninas Malvadas estreou no Teatro Santander, no complexo JK Iguatemi, em São Paulo, e elas não podem evitar ser tão populares!

A adaptação brasileira do musical Meninas Malvadas, baseada no icônico filme de 2004, estreou no dia 13 de março com o pé direito, conquistando o público com performances incríveis e uma mensagem tão atual quanto universal. Com um elenco de peso liderado por Danielle Winits (em uma tripla interpretação como Sra. Heron, Sra. George e Srta. Norbury), Laura Castro como a protagonista Cady Heron e Anna Akisue na pele da inesquecível Regina George, o espetáculo recria a narrativa que marcou gerações. Além de revisitar diálogos e cenas clássicas, o musical adiciona camadas emocionais e melodias cativantes que prendem a atenção de quem assiste do início ao fim.

Sob direção de Mariano Detry, direção musical de Jorge de Godoy e coreografias de Danilo Santana, a montagem — produzida pela EGG Entretenimento e pela IMM — honra a essência da obra original. Na trama acompanhamos Cady Heron, uma adolescente que deixa a vida na África com seus pais cientistas e se muda para os Estados Unidos. Em sua nova escola, ela descobre o complexo ecossistema social das high schools americanas: os nerds, os atletas, os estranhos, e, claro, o grupo mais temido e fascinante de todos, as “Plásticas”, liderado pela magnética Regina George. Sob a orientação de seus novos amigos, Janis e Damian, Cady embarca em um plano para sabotar as Plásticas. Mas, no processo, ela acaba se perdendo em um jogo perigoso de popularidade e intrigas.

Com uma adaptação de roteiro inteligente e músicas bem traduzidas, o espetáculo é tudo o que a recente adaptação cinematográfica de 2024 tentou ser, mas não conseguiu: vibrante, espirituoso e cheio da magia que acompanha esse filme icônico desde 2004. A obra de Fey ganha nova vida nos palcos nacionais, sem abrir mão da crítica social afiada que sempre foi sua base.

Anna Akisue, que vive Regina George, se tornou um fenômeno nas redes sociais e, ao que tudo indica, conquistou um espaço enorme no coração do público. Sua Regina não apenas carrega o espírito original da personagem como imprime camadas novas: combina força e sutileza com vocais potentes e presença cênica. A própria atriz revelou que, ao construir sua personagem, o foco estava em mostrar “acima de tudo, um ser humano. Com defeitos, qualidades, vulnerabilidades e muita verdade.” E essa entrega é sentida em cena, tornando sua Regina mais empática e até compreensível. “Acredito que sua insegurança é sua maior fraqueza, e isso fez com que ela gerasse essa ‘casca’ como forma de se proteger”, contou Anna,  uma leitura que aprofunda e dá novas dimensões à vilã mais amada da cultura pop.

“Tenho muitas dificuldades de convivência com ‘Reginas’ da vida”, comentou Anna, “mas dar vida a ela me fez entender melhor e ter mais empatia com essas pessoas também.” Sobre o sucesso nas redes, ela completa: “Esse projeto resgatou uma chama artística muito grande em mim”, disse, emocionada com a repercussão e carinho do público. “Está sendo um presente maior do que eu consigo dizer!”

Laura Castro também brilha como Cady Heron. Seu carisma, somado ao humor mais afiado da personagem nesta versão, confere um novo frescor à protagonista. Sua química com André Torquato (um convincente Aaron Samuels) é nítida, e sua entrega vocal e presença de palco confirmam o que o teatro musical brasileiro já sabe: Castro está entre os grandes nomes de sua geração.

Interpretar uma personagem em transição constante foi, segundo a própria atriz, um desafio à altura. “No começo ela tem o carinho do público, depois todo mundo precisa odiar ela. E, pra gente que vive o personagem, dá uma certa dó... mas faz parte da história”, explica. Laura conta que, com apoio do diretor Mariano Detry, aprendeu a aceitar esse processo: “Tá tudo bem as pessoas não gostarem da sua personagem por um tempo. Elas precisam não gostar dela para a história ser contada.”

Essa jornada interna de Cady é especialmente marcante na canção final do espetáculo, momento que sintetiza a curva emocional da protagonista. “Ela diz que não se deve inspirar nela, porque, quando temeu, mostrou seu pior. Mas também reconhece a luz do outro, e entende que o que temos de diferente é o mais bonito em nós. Às vezes, a gente se perde tentando se encaixar, mas quando reconhece a própria luz, tudo se transforma.”

Laura traz verdade à personagem a partir de sua própria experiência. “Já sofri bullying, já mudei de escola cinco vezes. Entendo profundamente esse sentimento de querer se encaixar. Isso trouxe uma camada emocional muito real ao meu trabalho.”

O elenco de apoio também merece destaque. Lara Suleiman, que recentemente emprestou sua voz à Moana na continuação do clássico da Disney, entrega uma Janis Ian com potência emocional e uma interpretação intensa do solo “I’d Rather Be Me” — um dos momentos altos da noite. Arthur Berges, como Damian, rouba a cena com seu timing cômico afiado, presença vibrante e uma voz que enche o teatro. 

Danielle Winits brilha na versatilidade, encarnando três figuras icônicas — Sra. Heron, Sra. George e Srta. Norbury — com segurança, carisma e uma entrega que revela domínio de cena. Para ela, o convite para viver essas personagens foi mais que um papel: foi um presente. “Já era fã do trabalho da Tina Fey, autora, atriz e produtora de Meninas Malvadas. Quando recebi o convite para dar vida a três personagens tão distintas, foi um presente triplo. Essas personagens já orbitavam no meu imaginário”, contou a atriz.

Com direção de Mariano Detry, Danielle construiu suas personagens com liberdade criativa e colaboração diária. “Foi um trabalho feito em conjunto com ele no dia a dia dos ensaios. E procuro jamais cristalizar. O teatro é vivo, e, na verdade, o trabalho nunca fica pronto — e essa é a beleza dele. É uma construção diária e única a cada apresentação.”

Em cena, essa vitalidade se reflete especialmente na Srta. Norbury, personagem com a qual Danielle mais se identifica fora dos palcos. “Tenho muito mais da Srta. Norbury no meu cotidiano. Procuro ser mais razão do que emoção com meus filhos, e não superprotetora ou permissiva como a Sra. George. Acredito na educação como base para formar um ser humano empático, amoroso, honesto e diferenciado para o bem.”

Mesmo com uma carreira consolidada em musicais, Danielle diz se manter com o espírito de aprendiz. “Essa disponibilidade em estar sempre aprendendo é o que me fascina e enriquece minha jornada no ofício. São talentos lindos e bebo em suas fontes, assim como procuro passar a eles minha bagagem, meu olhar mais apurado e minha experiência de tantos anos. É uma troca genuína entre gerações distintas que amam o teatro e reconhecem sua importância para uma carreira duradoura.”

Já Gigi Debei (Gretchen) e Aline Serra (Karen) completam o trio das “Plásticas” com atuações que equilibram o cômico e o humano. Debei entrega uma Gretchen mais articulada e sensível do que a versão recente do cinema, enquanto Aline Serra transforma Karen Smith em uma comediante nata, genial sob a aparência de ingenuidade. É na aparente simplicidade que sua Karen surpreende: espirituosa, irreverente e, por vezes, profunda — mesmo quando parece não saber o que está dizendo. "Ela fala muita besteira, mas também diz coisas extremamente sérias e inteligentes. O que mais me ajudou a trazer a ingenuidade foi falar tudo que é importante, sério, com sorriso no rosto e leveza. E as coisas mais burrinhas, essas mais banais, eu falo sério, sem tentar fazer piada. Quem fala essas coisas nem percebe que é besteira. Só deixa sair.”, comenta Aline.

Sobre o número em que Karen celebra o Halloween com um figurino ousado, Aline detalha: “Foi fácil construir o sexy. Pra ela, é o dia mais feliz do ano. O número é um grito de liberdade. Ela se diverte porque pode vestir o que quiser sem ser julgada. As poderosas também não escapam do machismo, né? Então, nesse dia, ela pode ser qualquer coisa.” Ao mesmo tempo em que solta uma de suas “pérolas”, Karen também lança uma das falas mais impactantes: que pode mudar o mundo, independentemente da roupa que veste. “Eu brinco que ela é o estereótipo da loira burra, mas é o grande ícone feminista da peça. Ela é o feminismo moderno: ‘eu quero mandar no mundo, mesmo num salto que nem sei usar direito’. E tem o número ‘Stop’, onde ela alfineta de forma leve: alguém precisa ensinar aos rapazes que espalhar fotos de mulheres — vestidas ou não — nunca é legal.”

Aline ainda imagina o que seria da personagem nos dias de hoje: “Ah, com certeza ela seria influencer. Ia gravar vídeos de dancinha no TikTok, dar conselhos sobre roupas… é a cara dela!”

Já Gigi Debei dá vida a uma Gretchen Wieners mais densa e multifacetada, distante da caricatura vista em adaptações recentes. Sua interpretação revela uma personagem marcada por inseguranças e por uma dependência emocional quase cega em relação a Regina George. “Ela dá tudo o que tem pra Regina e vive se perguntando qual é o problema com ela para não ser suficiente”, explica a atriz, que vê a personagem como alguém emocionalmente impulsiva, tentando ser aceita a qualquer custo.

No solo “O Que Há em Mim” (What’s Wrong With Me?), um dos momentos mais sensíveis do musical, essa vulnerabilidade vem à tona. “Foi uma das primeiras vezes em que me senti completamente exposta. A música fala de um lugar real, delicado, e o Mariano [Detry, diretor] dizia que não queria só risos — queria que as pessoas ouvissem de verdade”, conta Gigi, emocionada. Ela compara Gretchen a “capangas de vilões famosos, como os Minions”, que vivem para validar o protagonista, mas escondem dores próprias sob a devoção exagerada.

A atriz ainda destaca o quanto a personagem age por impulso: “Ela tenta ser estratégica, mas é levada pela ansiedade. Fala sem pensar, e quando percebe, já foi. Não tem como voltar atrás.” Com isso, Gigi entrega uma Gretchen contraditória, frágil e profundamente humana, uma figura que representa, com humor e sensibilidade, o medo de não pertencer.

Em Meninas Malvadas – O Musical, cada personagem ganha uma nova dimensão que vai muito além da versão cinematográfica de 2004. Cady Heron, interpretada com delicadeza por Laura Castro, deixa de ser apenas uma “menina boa corrompida pela popularidade” para se tornar símbolo das contradições do amadurecimento. Regina George, nas mãos de Anna Akisue, não é mais apenas a vilã carismática, ela se revela vulnerável, insegura e até compreensível. Gretchen, vivida com intensidade por Gigi Debei, expõe os efeitos corrosivos de uma amizade tóxica, enquanto Karen, reinventada por Aline Serra, emerge como uma voz inesperada de liberdade e autoconhecimento. Janis e Damian, por sua vez, reforçam o valor da autenticidade e do afeto nas margens sociais, e Danielle Winits costura com habilidade três figuras adultas que, embora caricaturais, refletem com humor e crítica os modelos que influenciam gerações.

Meninas Malvadas – O Musical não é só uma adaptação fiel, mas é uma celebração do poder que é o teatro musical brasileiro. E também uma lição para quem ainda acha que adolescentes, redes sociais e rivalidades femininas são temas “menores”. Aqui, eles são tratados com inteligência, energia e uma generosa dose de autoironia. Um espetáculo que diverte, emociona e deixa o público com vontade de falar sobre ele mais um pouquinho.

E se depois de tudo isso você ficou com vontade de ver — ou rever — essas personagens sob nova luz, a hora é agora. Meninas Malvadas: O Musical segue em cartaz em São Paulo até o dia 29 de junho, no Teatro Santander (Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, 2041, Vila Olímpia), com sessões de quinta a domingo. Os ingressos variam entre R$ 21,18 e R$ 400 e estão disponíveis no Sympla e na bilheteria do teatro. Uma chance imperdível de ver de perto um elenco afiado, uma montagem incrível e uma história que continua atual, divertida e — como diria Regina George — tão fetch quanto nunca.

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